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The Working Class

Installation
  • Category: Installation
  • Material: Computer, mirror bords, speakers
  • Video Duration: 4 min 38 sec on loop
  • Location: Trienal de Lisboa, Portugal
  • Roundabout.Lx, Lisboa, Portugal
The Working Class

And how do you want them to be?
I must accustom myself to their teeth fixed to my leg. It is best to continue accepting its existence.

Now - I tell you - one - thing, recognition is only reassuring because it is towards the outside and it is especially reassuring when above all you manage to stop the thing in time, to control it.

The Working Class - Doc

The following text is written by Candela Varas and it was inspired on The Working Class installation and published on "Este Corpo que me Ocupa", first publication of Buala, a multidisciplinary portal dedicated to the critique, record and reflection on contemporary African cultures.

E como queres tu que estejam?

Tenho de acostumar-me aos seus dentes cravados na minha perna. Mais vale ir aceitando a sua existência. Agora – digo-te – uma - coisa, o reconhecimento só é tranquilizador porque é para fora e, é realmente tranquilizador quando sobretudo consegue parar a coisa no tempo, dominá-la. E, por isso, para mim, não é mesmo possível. Eles, pense neles de que forma pensar, vão crescendo para dentro, e por isso, quando me perguntam como estão, pois irrito-me, porque este pensamento em nada muda a minha situação, só faz com que me preocupe e que fique pior, sobretudo, porque nada mais é do que cortesia. Antes? Antes sim, antes eram pássaros escorregando pela chaminé. Esvoaçavam meio mortos no parapeito da janela, esperando-me, sim, estavam sempre à minha espera como em um seu último suspiro, que na verdade era falso, arremessando penas que se colavam na minha roupa, mas não havia dúvida, pelo menos, eram exteriores falsos últimos suspiros. Permaneciam aí, à minha frente, sem nenhum pudor, meio mortos, batendo, quando menos se esperava, uma asa ferida. Será que fechei bem as janelas? Bom, mas isso era dantes, quando era clara a sua exterioridade, mas já ninguém se lembra...
Nunca imaginei que um dia iria sentir nostalgia desse tempo.

Se conseguisses ver-me, não mudaria nada, podes ter a certeza. Tudo se manteria submerso, como até agora. Tudo igualmente molhado, e nem com o pé em água morna conseguiria acalmá-los. Não mudaria nada, tivesse ou não esquecido de descongelar os filetes de pescada e de pagar as contas, tivesse ou não decidido, por fim, mudar de cidade, continuaria obrigada a conviver com eles, porque que remédio tenho eu? E com esta idade... mesmo que me assegurem uma e mil vezes que é normal é tão difícil... esta pele começa a ganhar este tom verde, e começo lentamente a supurar pequenas membranas, das que com nada logro estabelecer uma comparação, mas ao tato, bem poderia dizer que são asas recortadas para microscópios. E eles, nada, não param quietos, por muitas precauções que tome e cuidados que lhes dedique. E daqui a uns anos, se é que sobrevivo, como serão? Irão crescendo e, inevitavelmente ir-me-ão consumindo? Mas bom, isso também será fruto do tempo, ainda que isto pouco ou nada me diga sobre a intensidade e a velocidade do desaparecimento. Além disso ninguém sabe dizer-me, ou ninguém se atreve a dizer-me, como virá a doer. Não saber como prever as suas oscilações e os seus dentes irrita-me profundamente, sobretudo porque não param quietos e picam.

É, portanto, normal que todas as coisas tenham essa fina camada de musgo escorregadia, se pensares bem, todas as coisas largam um leve tom verde, um verdor do antes ou do depois, que não é relativo ao tempo abstrato, e do qual qualquer um de nós se tem de proteger, tomar as devidas precauções, nunca embrulhar a carne em papel com letras e manter sempre uma distância prudencial com as coisas, porque se não for o tempo, bem podem ser e serão outras as possíveis causas, e cada um tem de proteger a sua vida, percebes? O mínimo descuido pode ser fatal, porque, se estão ou não à tua espera ou à espreita, pouco importa, a qualquer momento, podem atacar. E há tantos poros, tantas aberturas. E se for eu mesma que, nalgum momento, por descuido ou por cansaço ou pelos dentes cravados na minha perna, resvale por estes caminhos molhados, tropece em alguma das suas avultadas rugosidades e desvaneça? Ninguém notaria a minha ausência... mas claro, isso é perfeitamente compreensível, porque para os outros e, será mau admiti-lo mas como eles para mim, sou uma pessoa como qualquer outra. E por isso, vou estar bem mais atenta.

Text by: Candela Varas

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